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UMA BREVE HISTÓRIA DO EGITO ANTIGO

 

UMA BREVE HISTÓRIA DO EGITO ANTIGO

Por Marcos Faber

 O Egito Antigo é, sem sombra de dúvidas, a civilização da antiguidade que mais desperta o interesse do público em geral. E os motivos para isso são muitos. Afinal, os artefatos arqueológicos, os templos, as múmias, as pirâmides e as ruínas de construções milenares nos mostram uma cultura incrível e única. Nenhuma outra sociedade da antiguidade possui, hoje, tantas referências como a egípcia.

Sua fascinante história de quase três milênios inicia por volta do ano 3100 a.C., quando o Egito ainda estava dividido em dois reinos distintos, já o seu término ocorre com a conquista macedônica em 332 a.C., quando as tropas lideras por Alexandre Magno subjugaram o Egito.


Os egípcios nunca denominaram sua terra de “Egito”, esta expressão é deriva do grego antigo “Aigyptos”, significando algo como “mansão de Pta”, e era como os gregos chamavam os territórios em torno do Nilo.

Os egípcios chamavam sua terra natal de “Kemet” que significa “terra negra” em referência a fertilidade das terras escuras localizadas às margens do rio Nilo. Quanto aos desertos que circundam os territórios, os egípcios denominavam de “Decheret” ou “Terra Vermelha”.

Também a Bíblia possui muitas referências ao Egito Antigo. Nas Escrituras cristãs a região é chamada de “Mizraim”. Segundo a tradição bíblia, Mizraim foi um dos filhos de Cam, o filho de Noé (o mesmo do dilúvio). O nome atual do Egito é “Misr”, a versão árabe de Mizraim.


O Egito Antigo surgiu e se desenvolveu ao redor do rio Nilo, uma região muito fértil, mas rodeada de desertos. Por isso, o grego Heródoto afirmou que “o Egito é uma dádiva do Nilo”. Mas os desertos não eram de todo mal, pois formam uma proteção natural repelindo possíveis invasões estrangeiras.

No norte, próximo ao Mar Mediterrâneo, ficava do Delta do Nilo, a mais fértil das regiões egípcias. No Delta haviam muitos animais como hipopótamos, aves e jacarés. A fauna e a flora local eram as mais ricas do Egito. Já no sul ficava a Núbia, um reino rival. Ao leste ficava o Mar Vermelho e ao Oeste existiam somente desertos.


A religião fazia parte da vida cotidiana de todos no Egito Antigo. Da arte à política, todos os aspectos da sociedade egípcia estavam impregnados de elementos religiosos.

A base religiosa estava no politeísmo, isto é, na crença em vários deuses. Os mais populares eram Rá, Osíris, Ísis, Hórus, Seth e Amon. Estes deuses eram apresentados em histórias mitológicas cheias de simbolismos e referências a sociedade da região.

Outra característica importante desta mitologia estava na aparência dos deuses. Eles eram representados de forma antropozoomórfica, isto é, misturavam a aparência humana com a de animais. Normalmente tinham corpo humano e cabeça de animal.

Quanto a hierarquia das divindades, ela mudava de acordo com a dinastia no poder. Por esse motivo, encontramos templos dedicados a diferentes divindades dependendo da época e de que faraó estava no governo. Por exemplo, na época da unificação do Egito, o deus Hórus passou a ter a preferência, já que o faraó Menés cultuava este deus. Por outro lado, durante o Império Novo, o faraó Akhenaton instituiu a adoração ao deus Áton, mas após sua morte a adoração a Amon voltou a ser a preferida.

Contudo, o mais importante da religião egípcia é que o faraó também era um deus e, como tal, deveria ser adorado. Esse fator da religião egípcia tornava-a o principal instrumento de manutenção da sociedade tal e qual ela era. Pois, a divinização do faraó tornava o seu poder político legítimo e inquestionável. E tornava a classe sacerdotal em importantes intermediários entre a sociedade e o desejo dos deuses.


Como vimos na introdução, a história egípcia cobre um longo período de tempo. Por isso, são várias as fontes de informação sobre a história da região. Pois, cada período histórico egípcio nos deixou diferentes fontes arqueológicas sobre ele.

Dos períodos pré-dinástico e dinástico existe uma série de artefatos como estátuas, vasos e ornamentos como joias e amuletos. As matérias-primas de tais artefatos eram ossos, lápis-lazúli, ouro, marfim, terracota, conchas, sílex e cerâmicas. Também existem ruínas de cemitérios na região do Delta do Nilo. 

Já no Império Antigo encontramos preservados importantes ruínas de construções como templos e palácios. Mas, sem dúvida o destaque são as três grandes pirâmides de Quéops, Quéfren e Miquerinos e a Esfinge de Gizé. Também são encontradas estátuas de faraós, de nobres e de escribas. Em muitos templos e palácios existem inscrições em hieróglifos narrando a vida de faraós e de deuses.

No período denominado de Império Médio existem evidências de que a capital egípcia tenha passado para cidade de Itjtawy, na região de Fayum, próximo ao Delta. Nas ruínas da cidade existe um importante sítio arqueológico que, entre outras coisas, revela que a cidade dispunha de um ótimo sistema de irrigação. Os amuletos e estátuas demonstram um grande avanço artístico. A literatura é outra que se manteve preservada em templos, tumbas e palácios. Também existem ruínas de pirâmides.

Entre o Médio e o Novo Império existem evidências de que um povo de origem semita, os hicsos, tenham dominaram a região do Delta do Nilo. Deste período foram encontrados ossos de cavalos, não existiam em fases anteriores, e instrumentos musicais diferentes daqueles localizados em outras épocas.

No Império Novo encontramos ferramentas e armas feitas em bronze e ferro, o que mostra que este foi um período de transição entre a Idade do Bronze e a do Ferro. É um período de construções de grande escala com destaque para o Templo de Karnak, o Palácio de Malaqata, as colossais estátuas de Ramsés II e o Templo de Luxor. Também foi construída a cidade de Akhetaten (atual Amarna). É deste período a incrível tumba do faraó Tutancâmon, a mais bem preservada tumba encontrada até hoje. Cabe destacar que foram preservados importantes documentos como os fragmentos do tratado de paz entre os egípcios e os hititas e um baixo relevo da Batalha de Kadesch.

Por fim, o Baixo Império marca uma série de domínios estrangeiros sobre o Egito Antigo. Os objetos arqueológicos do período mostram as mudanças e influências que cada povo opressor causou a cultura egípcia. Seja na arte, na escrita ou na construção de templos e palácios os povos que dominaram o Egito Antigo deixaram suas marcas nesta cultura. Existem evidências de batalhas entre o Egito e os exércitos de Nabucodonosor, rei da Babilônia, em 586 a.C. Por fim, em 332 a.C., Alexandre Magno invadiu a região dando início ao período Ptolomaico. Este feito coloca fim a autonomia do Egito Antigo enquanto reino.


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