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A REVOLUÇÃO FRANCESA

Quadro a ‘Liberdade Guiando o Povo’ de Éugene Delacroix. Símbolo das revoluções que se espalharam por toda a Europa após a Revolução Francesa.

A REVOLUÇÃO FRANCESA

Por Marcos Faber

A situação da França no século XVIII era de extrema injustiça social na época do Antigo Regime. Nessa época a França estava dividida em três Estados. O Terceiro Estado era formado pelos trabalhadores urbanos, camponeses e a pequena burguesia comercial. Os impostos eram pagos somente por esse segmento social com o objetivo de manter os luxos da nobreza. 

A França era um país absolutista nesta época. O rei governava com poderes absolutos, controlando a economia, a justiça, a política e até mesmo a religião dos súditos.

A vida dos trabalhadores e camponeses era de extrema miséria, portanto, desejavam melhorias na qualidade de vida e de trabalho. A burguesia, mesmo tendo uma condição social melhor, desejava uma participação política maior e mais liberdade econômica em seu trabalho.

A Revolução Francesa: A Queda da Bastilha

A situação social era tão grave e o nível de insatisfação popular tão grande que o povo foi às ruas com o objetivo de tomar o poder e arrancar do governo a monarquia comandada pelo rei Luís XVI. O primeiro alvo dos revolucionários foi a Bastilha. A Queda da Bastilha em 14/07/1789 marca o início do processo revolucionários, pois a prisão política era o símbolo da monarquia francesa.

Inspirados no movimento iluminista, o lema dos revolucionários era "Liberdade, Igualdade e Fraternidade", pois ele resumia muito bem os desejos do Terceiro Estado francês.

Durante o processo revolucionário, grande parte da nobreza deixou a França, porém a família real foi capturada enquanto tentava fugir do país. Presos, os integrantes da monarquia, entre eles o rei Luis XVI e sua esposa Maria Antonieta foram guilhotinados em 1793. O clero também não saiu impune, pois os bens da Igreja foram confiscados durante a revolução.

A Assembleia Constituinte: A Monarquia Constitucional

No mês de agosto de 1789, a Assembleia Constituinte cancelou todos os direitos feudais que existiam e promulgou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Este importante documento trazia significativos avanços sociais, garantindo direitos iguais aos cidadãos, além de maior participação política para o povo. Entretanto, apesar de revolucionária, a Declaração não reconhecia a igualdade das mulheres e não lhes concedeu direitos de cidadania.

Curiosamente a prisão do rei absolutista Luís XVI foi realizada por mulheres. Elas marcharam de Paris a Versalhes, tomaram o palácio e escoltaram o monarca até a capital francesa. Acima tirinha de Adriano Kitani (www.pirikart.com.br).


Os Partidos Políticos

Após a revolução, surgem, no Terceiro Estado, os primeiros partidos com opiniões diversificadas.

Girondinos
Representavam a alta burguesia. Queriam evitar uma participação maior dos trabalhadores urbanos e rurais na política. Eram conservadores. Na Assembleia francesa, sentavam no lado direito do parlamento, por esse motivo ficaram conhecidos como partido dedireita.

Jacobinos
Representavam a baixa burguesia. Defendiam uma maior participação popular no governo. Eram revolucionários. Como formavam um grupo oposto aos Girondinos, sentavam do outro lado do parlamento, por isso, ficaram conhecidos como partido de esquerda.

Planície ou Pântano (la plaine)
Em relação aos anteriores eram neutros. Em alguns momentos apoiavam os Girondinos noutros os Jacobinos. Porém, geralmente eram conservadores. Sentavam no centro do parlamento, com isso, ficaram conhecidos por partido de centro.

Republicanos (cordeliers)
Eram radicais. Defendiam profundas mudanças na sociedade que beneficiassem os mais pobres. Com o tempo foram incorporados aos Jacobinos. Eram a extrema esquerda.

Monarquistas (Feuillants)
Defendiam a Monarquia Constitucional. Em suas fileiras estavam nobres, clérigos e burgueses (alta burguesia). Foram extintos após a morte de Luís XVI. Na Fase do Terror, muitos foram executados, outros fugiram do país.


Durante o Terror, Robespierre foi o responsável por condenar milhares de "traidores" à guilhotina. Mas por ironia, morreu guilhotinado. Imagem 3D acima de reconstituição do rosto de Robespierre realizada em 2013 pelos cientistas forenses Philippe Charlier e Philippe Froesch.


A Fase do Terror

Em 1792, após a frustrada tentativa de fuga da família real, os jacobinos e os republicanos radicais liderados por Robespierre, Danton e Marat assumem o poder e organizam as guardas nacionais. Os radicais acabam com a Monarquia Constitucional e instituem a República.

As guardas nacionais recebem ordens dos líderes para matar qualquer oposicionista ao novo governo. Muitos integrantes da nobreza e outros franceses de oposição foram condenados a morte na guilhotina. A violência e a radicalização política são as marcas desta época.


A Revolução Francesa mudou o conceito como entendemos a política, a cultura e a sociedade. Não haviam mais heróis entre os príncipes, os heróis, agora, eram os cidadãos. Tirinha de Adriano Kitani (disponível em www.pirikart.com.br).


A burguesia no poder: O Diretório

Em 1795, os girondinos assumem o poder e começam a instalar um governo burguês na França. Uma nova Constituição é aprovada, garantindo o poder da burguesia e ampliando seus direitos políticos e econômico.

O governo passou a ser controlado por um Diretório de cinco membros. Os jacobinos foram desligados do poder e o povo foi gradualmente sendo afastado das decisões políticas.

É neste contexto, que o general francês Napoleão Bonaparte chega ao poder com o objetivo de controlar a instabilidade social e implantar um governo burguês. Só que em 1799 (18 de Brumário) Napoleão dá um Golpe de Estado e assume o poder da França.

Conclusão

A Revolução Francesa foi um importante marco na História da nossa civilização. Significou o fim do sistema absolutista e dos privilégios da nobreza. O povo ganhou mais autonomia e seus direitos sociais passaram a ser respeitados. A vida dos trabalhadores urbanos e rurais melhorou significativamente. 

Por outro lado, a burguesia conduziu o processo de forma a garantir seu domínio social. As bases de uma sociedade burguesa e capitalista foram estabelecidas durante a revolução. A classe burguesa, direta ou indiretamente, liderou praticamente todo o processo político francês, o que garantiu o seu domínio sobre a sociedade nos anos que se seguiram. 

A Revolução Francesa, com seus ideais iluministas, influenciou fortemente diversos movimentos sociais e políticos em todo o mundo, como, por exemplo, a Primavera dos Povos na Europa, a independência de alguns países da América Espanhola (como Argentina, Chile, Uruguai, Colômbia, Venezuela, entre outros), o movimento de Inconfidência Mineira e a Revolução Farroupilha.



Sans culottes era a denominação de como eram conhecidos os trabalhadores urbanos que lutaram na Revolução Francesa. Em outras palavras, eram os cidadãos unidos e organizados que lutavam por seus direitos civis e pelo fim da servidão nos campos.




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